quinta-feira, 5 de abril de 2012

ORATÓRIA2


Como falar bem em público

Luís Colombini

O professor Reinaldo Polito, um dos maiores especialistas brasileiros em comunicação verbal, ensina como vencer o medo e conseguir uma comunicação eficiente com qualquer platéia.

Poucas coisas são mais fáceis na teoria e difíceis na prática do que falar bem em público. Fáceis porque, a menos que você more numa caverna, as pessoas, de maneira geral, falam em público o tempo todo - com os amigos, os colegas, a família e por aí afora. Difícil porque basta dar um aspecto mais formal àquilo que você já faz o tempo todo - como expor idéias numa reunião ou apresentar um projeto a todo o departamento da empresa - para a garganta secar e as pernas tremerem. E o problema é que isso ocorre justamente na hora mais importante, exatamente naquela em que você precisa falar com calma, segurança e brilho.

Não há pessoa que não precise falar bem em público. De vendedores a professores, de advogados a engenheiros, nunca se sabe a hora em que você será convocado para defender um ponto de vista ou uma nova idéia. A verdade é que todas as pessoas estão vendendo sua imagem o tempo todo, seja para convencer alguém a comprar seu produto ou uma empresa a contratá-lo. Sem expor com correção e confiança o que você tem a dizer, as chances de ser bem sucedido diminuem rapidamente.



Para ajudá-lo a vencer esse enorme desafio de se comunicar com segurança e propriedade, Seu Sucesso apresenta uma exposição completa do professor Reinaldo Polito, um dos maiores especialistas brasileiros em expressão verbal. Em sua escola, ensinou mais de 30.000 alunos nos últimos 30 anos. Entre eles, figuram nomes como a atriz Irene Ravache, o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o ex-presidente Jânio Quadros. Nesta aula, Polito fala primeiro sobre a origem e as causas do medo de falar em público e depois ensina algumas técnicas simples e eficientes para vencer a inibição e obter uma comunicação eficiente com o público.



O medo de falar em público



Um dos maiores problemas da humanidade é o medo de falar em público. Se você tem esse medo, não se preocupe, pois não está sozinho. A maioria das pessoas tem o mesmo medo. Num estudo realizado nos Estados Unidos, alguns psicólogos pesquisaram quais são os maiores medos do homem. O resultado apontou que as pessoas têm medo de altura, de insetos, de águas profundas, da morte. Mas, dentre os medos, o grande campeão é o medo de falar em público. Antes de discorrer sobre as causas que provocam esse medo, convém falar um pouco sobre o medo em si. Ele é encarado como um inimigo, e nos esquecemos de que é um mecanismo de defesa extraordinário à nossa disposição.
Quando nossos antepassados se viam ameaçados por um animal feroz, as glândulas supra-renais entravam em atividade e liberavam adrenalina no corpo. Com isso, fortaleciam-se os músculos, a pressão sanguínea aumentava e o homem podia se movimentar com mais velocidade e força enquanto a adrenalina não era metabolizada. Com essa energia extra, o homem podia enfrentar o animal ou tentar sumir da frente dele. Hoje ainda é assim, embora não tenhamos mais de enfrentar tigres dente-de-sabre. 
Quando temos medo, o organismo libera adrenalina para que possamos fugir rápido. Em conseqüência, na hora de falar em público - um momento em que até queremos, mas não podemos fugir -, ficamos com medo e também recebemos uma descarga de adrenalina em nossas veias. Mas, como não podemos correr e, assim, metabolizá-la, a adrenalina começa a provocar uma confusão enorme no organismo. A espinha gela, pernas tremem, as mãos suam, o coração bate mais forte, borboletas voam no estômago. Tudo isso por causa da adrenalina.
Agora que entendemos o mecanismo de medo, vou falar das causas do medo de falar em público.
Primeiro motivo: a pessoa não conhece em profundidade o assunto que vai expor. Se você não domina a matéria, de certa forma se sente frente ao desconhecido, que todos temem. Começam a aparecer dúvidas na cabeça: "e se eu esquecer uma informação importante?". "E se não encontrar a idéia certa que una dois temas?". "E se não chegar ao final da apresentação?". "E se houver alguém na platéia que entenda do assunto mais do que eu?". Antes mesmo que aconteça, fica com receio de que, se tropeçar em alguma dessas perguntas, pode ter a imagem prejudicada diante do grupo. E, com receio de ter a imagem prejudicada, entra em ação o mecanismo do medo, que culmina com a injeção de adrenalina na hora de falar.



A falta de conhecimento sobre um assunto, no entanto, não explica por si só a existência do medo. Quantas pessoas você conhece que é especialista em um tema e que fica com medo na hora de se apresentar em público? Ou gente que é convidada para falar a colegas de outras áreas da empresa sobre um trabalho que vem desenvolvendo há 20 anos? Mesmo entre amigos, para falar por cinco minutos de algo que conhece em detalhes, a pessoa fica com medo. O que explica isso? A falta da prática, da experiência no uso da palavra em público. Se você não tem prática para falar, naturalmente se verá em uma situação desconfortável. Afinal, nenhuma faculdade ensina como se posicionar na tribuna, como ajeitar o microfone, como ouvir sua própria voz. Como não tem experiência em falar para uma platéia, como não tem o amparo da prática, a pessoa começa a imaginar que está indo mal, que sua imagem pode ser comprometida. De novo, o receio vem, o mecanismo do medo é acionado e lá vem a adrenalina atrapalhar tudo.
Mas veja: já ensinei ministros, políticos, artistas, professores. São pessoas que dominam sua especialidade e usam a palavra como ferramenta na sua atividade, mas mesmo assim confessam que têm medo de falar em público. Conheço professores que discorrem para turmas e turmas de alunos por vários anos mas engasgam na hora de fazer uma homenagem pública a um velho amigo no aniversário dele - por mais que sejam palavras que deveriam nascer com facilidade em seu coração. De novo, pergunto: por que isso ocorre?



Aqui vai o motivo mais forte que costuma travar as pessoas, por mais conhecimento e experiência de falar em público que tenham: a falta do auto-conhecimento. Todos temos dentro de nós dois oradores. O primeiro é o orador verdadeiro, com o qual transmitimos aquilo que falamos. Mas temos também um orador que é fruto da imaginação, com o qual pensamos que não transmitimos aquilo que estamos falando. Existe uma grande diferença entre eles. É interessante notar com surge esse orador imaginário. Todos nós, independentemente do nível social e cultural, passamos mais ou menos pelas mesmas circunstâncias na vida, por tristezas, decepções, cerceamentos no trabalho, na escola, na nossa própria casa. Com o passar do tempo, esses acontecimentos negativos vão formando registros negativos na nossa formação. Gradativamente, eles vão construindo uma auto-imagem falsa, negativa, distorcida, uma imagem muito diferente da real imagem que nós possuímos. O orador imaginário está baseado justamente nesse auto-imagem. Nós nos apresentamos de uma maneira, mas, com base nesses registros negativos, imaginamos que estamos falando de maneira totalmente diferente. Ficamos com medo da crítica. Ficamos com medo da censura. Achamos que as pessoas não estão gostando, que não estão nos aceitando. Imaginamos a rejeição, temos receio de ter nossa imagem abalada, acionamos o mecanismo do medo e, mais uma vez, a adrenalina atrapalha na hora de falar.



Como combater o medo de falar em público



Já sabemos que são três as faltas que induzem ao medo de falar em público: a falta de conhecimento, de prática e de auto-conhecimento. Quais os caminhos que podemos percorrer para enfrentar e vencer o medo de falar? O primeiro alerta que vou dar, e que considero o mais importante, é este: não tente eliminar totalmente o medo. Há pessoas que dizem que não têm medo de nada, que enfrentam qualquer situação, qualquer auditório, sem preparação nem nada. Esse pode ser o começo do fim - porque essa pessoa não vai se preparar de maneira conveniente, não vai respeitar o público e fatalmente terá problemas de comunicação. O que se deve fazer é dominar, domesticar esse medo, e não tentar aniquilá-lo.
Reduzir a quantidade de adrenalina que o organismo libera. Pois a adrenalina em doses menores dá origem a uma energia positiva, que pode ser canalizada para conferir mais entusiasmo, energia e emoção a nossa comunicação. Com isso, passa-se mais credibilidade, como se verá adiante.



Agora que você já sabe que o medo não deve ser totalmente eliminado, vou dar algumas sugestões para que você se saia bem. Primeiro: conheça com profundidade o assunto sobre o qual vai falar. Quanto mais conhecê-lo, mais seguro vai ficar na frente do público. Segundo: organize suas idéias, determinando o caminho para conduzi-las do princípio até o final. Agindo assim, você ficará mais tranqüilo para fazer apresentações. Outra sugestão: pratique bastante. Aproveite todas as oportunidades que tiver. Pratique na frente do espelho, fale para o gravador, se tiver uma câmera de vídeo, grave-se e depois se assista na TV. Caso alguém o convide para falar em público, aceite, pois afinal o mais difícil - ter conhecimento sobre um assunto, seja de trabalho ou um hobby - você já tem. Note que não é nada diferente daquilo que você já tem contato. Ou você conhece alguém que foi convidado para falar sobre algo que desconhece? Se puder recorrer a um amigo que possa ouvi-lo e fazer comentários sobre a sua forma de falar, isso é de muita utilidade.



Agora vem a sugestão mais importante que eu poderia fazer: procure conhecer os seus pontos positivos e reforçá-los. Esqueça as críticas que eventualmente lhe fizeram, que só ferem a estima e não constroem nada. Repito: fixe-se nos seus pontos fortes e os explore. Junto com a naturalidade, é aí que estará a força e a qualidade da sua comunicação. Quais são esses pontos fortes? Bem, embora absolutamente todos os tenham, eles variam de pessoa para pessoa. Pode ser uma entonação correta, a boa postura, uma voz agradável, vocabulário abrangente, a concatenação de idéias, a capacidade de conversar ou de entreter os amigos numa mesa de bar. Quando uma pessoa começa a identificar e explorar seus pontos positivos, sua eficiência de comunicação automaticamente aumenta. Essa eficiência faz com que adicionemos registros positivos na nossa formação, valorizando a nossa auto-imagem e robustecendo o orador imaginário. Com isso, acabamos falando com muito mais segurança e confiança.



Como melhorar a sua comunicação



Depois de reduzir o medo, vou dar algumas orientações que você poderá colocar em prática imediatamente. São orientações simples, fáceis de serem assimiladas e que poderão aprimorar em pouco tempo a sua comunicação. Por que é importante falar bem em público? Quando se fala bem em público, o ouvinte não fica observando se uma pessoa está utilizando corretamente uma técnica, se está gesticulando de forma eficiente, se está se posicionando bem. O que o ouvinte observa é o seu desembaraço, a sua desenvoltura, é a personalidade forte e confiante projetada no momento da apresentação. A comunicação bem desenvolvida serve como uma espécie de marketing pessoal. Imagine alguém numa empresa desenvolvendo bem o seu trabalho e querendo que as outras pessoas descubram a sua eficiência como profissional. Ele não pode chegar para cada um de seus companheiros, para seu superior hierárquico e dizer: você viu como eu sou competente? Viu como eu faço bem esse trabalho? Poderia até angariar antipatia das pessoas que trabalham com ele. Mas, se fala bem, constantemente está se apresentando, está sendo chamado, está sendo convidado. E de uma maneira sutil ele vai fazendo a sua promoção pessoal, demonstrando, nas suas apresentações o seu conhecimento, a sua experiência, a sua eficiência.



Características dos ouvintes



Vamos falar de um dos pontos mais importantes que temos na comunicação: os ouvintes. Só existe comunicação porque existe ouvinte. É interessante como as pessoas acabam negligenciando esse aspecto importantíssimo da comunicação e falam sempre da mesma maneira para qualquer tipo de auditório. Cada auditório deve ter a sua forma apropriada de ser enfrentado. Se você for falar, por exemplo, para um grupo de pessoas despreparadas, se essas pessoas não conseguirem se envolver com a sua mensagem, a culpa não é delas. A culpa é sua, que não teve a habilidade e a sensibilidade de adaptar a sua mensagem de acordo com as características daquele grupo. Pessoas despreparadas têm dificuldade de entendimento. Você não poderá desenvolver um raciocínio abstrato sofisticado, pois elas não vão entender. Você não poderá fazer reflexões complexas, pois elas não foram preparadas para chegar às conclusões apenas a partir das premissas levantadas. Essas pessoas precisam ser tratadas e conduzidas com muito cuidado. É necessário colocar informações concretas e objetivas na nossa apresentação. Também contar historinhas para que elas possam entender bem o desenvolvimento do raciocínio. Se, por acaso, você resolver levantar reflexões, precisa dar também a conclusão para facilitar o trabalho de entendimento. Se for falar para pessoas bem instruídas porém leigas, que não estão familiarizadas com o tema que vai abordar, não adianta tratar do assunto com profundidade, pois elas não vão compreender.



Mas, se for falar para um grupo de pessoas bem preparadas, aí é diferente. Pode desenvolver raciocínios abstratos ou fazer reflexões mais rebuscadas. Essas pessoas sentem até mais prazer em chegar às conclusões a partir das reflexões que são levantadas. Se tiver de fazer uma apresentação para um grupo de especialistas, não trate do assunto de forma superficial - pois as pessoas já conhecem todas as informações básicas. Elas podem até se desinteressar da apresentação se você for muito elementar. Que tipo de público você vai enfrentar? Pretende falar para pessoas jovens? O jovem é idealista, entusiasmado, interessado no futuro. Para pessoas idosas? O idoso já tem outro comportamento, normalmente volta sua atenção ao passado, ao tempo de suas conquistas. Por isso, é importante saber que tipo de característica predominante tem o auditório, se há mais mulheres do que homens, ou vice-versa. A partir dessas constatações é que você deve dirigir sua comunicação. Deve também analisar o que interessa às pessoas que estão à sua frente. Pode ser ganhar dinheiro, a realização profissional, a família, o poder, o amor, política, religião. Enfim, o que interessa a esses ouvintes? Quando conseguir responder essa pergunta, acertará a sintonia com a platéia e, a partir daí, terá um canal livre de comunicação, com muita possibilidade de sucesso.



Mas e se você não conhece as pessoas que estão na platéia? Nesse caso, é possível, com um pouco de atenção e observação, detectar as características predominantes. Verificar, por exemplo, como as pessoas se sentam, se vestem, como penteiam o cabelo, que relógio estão usando. Prestar atenção em como elas reagem às colocações mais sutis. Se você fizer um comentário requintado ou de humor fino e a platéia reagir prontamente, você provavelmente estará diante de pessoas bem preparadas. Se fizer o mesmo comentário e a resposta demorar, deverá ter um pouco mais de cuidado para passar suas informações. Por isso, é fundamental levar em conta que tipo de ouvinte você vai enfrentar. Muita gente me procura e diz: "Polito, eu fiz uma apresentação e o resultado foi fantástico, fui aplaudido de pé. Num outro dia, fiz a mesma apresentação em outro lugar e o público não reagiu. Por que ocorreu isso?" Ora, provavelmente porque fez a mesma apresentação para públicos diferentes. Não fez a adaptação necessária para se adequar às características da nova platéia. Além disso, para que a sua mensagem possa chegar bem aos ouvintes, é preciso contar com alguns elementos essenciais: a voz, a vocabulário e a expressão corporal. Vamos verificar os cuidados que você deve ter com cada um deles para obter a comunicação mais eficiente possível.



Como usar bem a voz



O primeiro ponto importante é a dicção. Pronunciar bem as palavras que você quer transmitir. Prestar atenção aos detalhes. Pronunciar bem um R final, um S final, um I intermediário. Dizer madeira, janeiro, e não madêra, janêro. Pronunciando bem uma palavra, você atinge dois objetivos importantes. O primeiro é evidente: torna a sua fala mais clara e compreensível, de forma que o público entenda mais facilmente o que você está transmitindo. O segundo objetivo é estético. Aquele que se apresenta com boa dicção demonstra que é uma pessoa bem formada e bem preparada. Se você já tem essas características, realçará naturalmente a autoridade de falar sobre o assunto que se propôs. Note que a boa dicção ajuda a dar credibilidade à mensagem.
Como é que você pode melhorar a dicção? Tenho observado que a maioria dos problemas de dicção ocorre por negligência. Há um exercício bastante simples que pode ajudá-lo a melhorar sua dicção imediatamente. Basta pegar um texto, de jornal, revista ou livro, e lê-lo com um obstáculo na boca, como o dedo ou um lápis. Dessa forma, tente pronunciar as palavras da maneira mais correta possível, realçando cada letra. Vai sair um som estranho e abafado, mas, quando tirar o obstáculo, vai perceber que as palavras ficaram mais claras e mais nítidas. Faça a experiência. Pegue o gravador e grave a sua leitura de um texto. Depois, grave o mesmo texto com o obstáculo na boca. Por fim, faça uma terceira leitura sem esse obstáculo. Compare a primeira com a terceira. Veja como melhora.



Agora, não adianta pensar na pronúncia das palavras, das sílabas, do R ou do S, no momento em que você está diante do público. Porque senão você vai cair no artificialismo, que deve ser combatido com todas as forças na comunicação. É preciso fazer exercícios exagerados, de tal maneira que a dicção possa ser desenvolvida e assimilada - e, a partir daí, pronunciar as palavras sem que as pessoas percebam que estamos tentando pronunciar bem. A naturalidade é a chave do sucesso na comunicação.
Outro ponto importante que existe em relação à voz é o volume, a intensidade. Quando estiver diante de uma, duas ou três pessoas, é claro que não poderá falar muito alto, do mesmo modo que não poderá sussurrar quando estiver diante da multidão. Cada ambiente exige uma intensidade apropriada. Chegue antes da hora marcada no local da apresentação para fazer uma avaliação, verificar a acústica da sala, se tem ou não microfone, a que distância está do último ouvinte. É essa avaliação que vai determinação a intensidade da sua fala. Essa é a regra: uma intensidade, um volume para cada tipo de ambiente a enfrentar.



Há mais um ponto crucial em relação à voz: a velocidade. Não existe um padrão de velocidade, cada um tem a sua. Depende da capacidade de respiração, da emoção, da dicção. Quem tem boa dicção pode falar um pouco mais rápido. Se não tiver, precisa falar um pouco mais devagar para que as pessoas compreendam a comunicação. A velocidade deve ser apropriada para a mensagem ser bem transmitida. Se frase for "passou rápido como um corisco", não há mal em falar em alta velocidade, "passourápidocomoumcorisco". Mas se disser "foi descendo mansamente com o entardecer", entre no ritmo da frase, dê pausas: "foi descendo.... man-sa-men-te? com? o? entar-decer". Treine e você vai encontrar a velocidade mais acertada para cada frase, de acordo com as suas características.
Observe agora que, embora tudo isso seja muito importante, a intensidade ou a velocidade isoladamente não são suficientes para uma comunicação perfeita. Para isso, o mais importante é a alternância entre velocidade e intensidade. Falar mais alto às vezes, colocar mais de intensidade, logo depois falar mais baixo, praticamente sussurrando diante de auditória. Falar mais rapidamente e mais à frente falar mais devagar. Com essa alternância, você pode dar um colorido especial à sua comunicação e, nesse ritmo, conseguir envolver a platéia. Se não fizer isso, se falar sempre com a mesma velocidade, com a mesma intensidade, o tempo todo a mesma coisa, do princípio até o final, sem respeitar pontos e vírgulas, sem pausas e ênfases, se fizer assim cinco minutos depois o público estará dormindo. Ninguém agüenta esse tipo monótono.



Como usar bem o vocabulário



Para que a mensagem chegue bem, de maneira integral aos ouvintes, também é necessário atentar para o vocabulário. Talvez você tenha um bom vocabulário e nem saiba. Até esse exato trecho do texto é possível que você não tenha precisado ir nenhuma vez ao dicionário, entendeu todas as palavras que eu disse. Isso significa que todas elas já fazem parte do seu vocabulário - embora nem sempre você utilize essas mesmas palavras para se expressar no seu cotidiano. Ou seja, às vezes é melhor ativar as palavras que você já conhece e estão adormecidas do que procurar aprender palavras novas ou diferentes para enriquecer uma apresentação ou impressionar. É evidente que, quanto mais palavras você tiver à disposição, melhor. Mas tenha certeza de que, se você apenas usar as palavras que já conhece, elas serão mais do que suficientes para expressar qualquer tipo de pensamento.
Vejamos aqui alguns cuidados que você precisa tomar com o vocabulário. O primeiro deles é eliminar os palavrões e as gírias da sua comunicação. Achar que você construirá uma imagem positiva usando palavrão ou gíria é uma grande ingenuidade. É claro que o palavrão na hora certa, numa roda de amigos, numa cerveja de fim de tarde, no meio de uma piada, pode até aumentar a eficiência da comunicação. A gíria bem utilizada - quando você demonstra ao ouvinte que está recorrendo à gíria de forma intencional - também pode ajudar a se aproximar ou de quebrar o gelo com o auditório. Mas isso é a exceção. Se não domina essa técnica, o melhor é não arriscar.



Cuidado também com as palavras difíceis, com os termos incomuns. Se usar palavras rebuscadas é possível que, no final da apresentação, alguns ouvintes ainda estejam tentando entender o que você falou no meio. Sem entender as palavras, não há como acompanhar o raciocínio. Na mesma linha, atente para os termos técnicos. Cada profissional - advogados, médicos, economistas - tem os seus e uns não obrigados a entender os jargões dos outros. Obviamente, se a sua platéia for formada apenas por colegas de trabalho, os termos técnicos até facilitarão a comunicação. Mas, se não adaptar sua fala para pessoas que não estão familiarizadas com certo tipo de linguagem, dificilmente a mensagem será entendida. Lembre-se que, para todas as situações, você deve procurar desenvolver um vocabulário prático, simples, objetivo, que transporte bem a sua mensagem e projete uma imagem positiva. Para tanto, não negligencie a gramática, não fale "menos", "para mim fazer", "vou estar ligando". Esse tipo de erro evidencia uma pessoa despreparada e pode comprometer a sua imagem e a da instituição que você está representando. Agora, fale corretamente, mas não se preocupe com o perfeccionismo gramatical, que pode ser prejudicial ao desenvolvimento da comunicação. Se começar a ficar exageradamente preocupado com esse tipo de detalhes, talvez não consiga ter uma boa fluência. Dê importância à gramática, claro, mas uma importância relativa.



Quando falo disso, sempre me lembro da história de dois oradores brasileiros que, em certo momento de suas vidas, foram inimigos. Um deles era Flores da Cunha e o outro era Teixeira Coelho. Quando um falava, o outro prestava a maior atenção aos eventuais deslizes, louco para fazer uma crítica. Um dia, Flores da Cunha falava a um grande público, com muita eloqüência e emoção. Mas, a certa altura, cometeu uma falha gramatical. Iniciou uma frase usando um pronome oblíquo. Imediatamente, Teixeira Coelho pediu um aparte para fazer uma observação. "Excelência", disse Teixeira, "eu gostaria de pedir que o senhor cuidasse um pouquinho mais de sua gramática. Qualquer criança do curso primário sabe que esse tipo de pronome não deve estar no começo de frases". Flores da Cunha não se abalou e respondeu com diplomacia, disse que agradecia o aparte e o momento de aprendizado, e prometia não repetir o erro. Em seguida, prosseguiu assim: "De onde eu venho estamos sempre preocupados com o bem-estar da população. Lá, discutimos com ardor os grandes temas que nos levem à felicidade. Se nesse momento a matrona da gramática se atreve a entrar na nossa frente, nós a atropelamos com a força da emoção. Sabe por quê, excelência? Porque a palavra do coração é mais importante que o perfeccionismo gramatical".



Como usar bem a expressão corporal



Depois da voz e do vocabulário, vamos ver o terceiro elemento que tem a responsabilidade de transmitir a mensagem aos ouvintes: a expressão corporal. Todo o nosso corpo se comunica quando nós falamos. Pés, pernas, troncos, braços, mãos, dedos, ombros, a cabeça, o semblante, tudo fala. É possível transmitir uma mensagem completa usando apenas a nossa expressão corporal. Nesse capítulo, é preciso evitar dois erros básicos. O primeiro é a falta do gesto, porque o corpo precisa se movimentar para ajudar a transportar a mensagem. E o segundo, muito mais grave, é o excesso de gestos. É preferível não gesticular do que gesticular sem parar porque, se a mensagem for boa, as pessoas prestam atenção no que está sendo dito. Mas, se não pára de fazer gestos, fica muito difícil manter a concentração nas palavras.
Existem alguns comportamentos que são desaconselháveis - embora isso não signifique que você não possa jamais recorrer a eles. Depende muito da sua naturalidade e das circunstâncias. Por exemplo: não falar muito com as mãos atrás das costas ou nos bolsos nem de braços cruzados. Outro: não se apoiar na tribuna, na mesa, na cadeira, na haste do microfone. Tome muito cuidado para não se apresentar com uma postura muito humilde, pois isso pode ser interpretado com a postura de um perdedor. Ninguém aceita liderança de um fracassado. Também não se comporte de uma maneira arrogante ou prepotente, porque as pessoas vão se colocar na defensiva.



Além disso, não fique andando de um lado para o outro na frente do público, como se fosse um animal enjaulado que quer fugir daquela situação. Trata-se de um erro muito comum entre professores. Atente para não ficar apoiado apenas na perna esquerda ou só na direita. Ou se está com as pernas muito abertas ou muito fechadas - sem trocadilho, isso pode comprometer o equilíbrio da sua apresentação. Procure distribuir o peso do corpo entre as duas pernas. Deixe-as levemente afastadas. Isso confere equilíbrio e passa uma imagem positiva ao auditório.
Mais um cuidado: não gesticule com as mãos colocadas abaixo da linha da cintura. Esses não têm nenhum valor. Gestos só são eficientes quando realizados acima da linha da cintura. Cuidado também para não deixar cotovelos grudados no tronco, numa atitude acuada, reprimida. Isso não é natural. O movimento espontâneo nasce no ombro, com o braço todo, formando um pequeno ângulo entre o braço e o tronco.



Atenção também a gestos ensaiados e mecânicos. Há pessoas que costumam fazer um gesto que acham bonito e, sem saber como terminá-lo com naturalidade, voltam à posição anterior num movimento brusco. Isso chama a atenção negativamente. O melhor é fazer o gesto, segurá-lo até completar a mensagem (tenha certeza de que não precisar de outro gesto para uma informação complementar) e só depois retorne à posição de apoio, naturalmente. Com esses cuidados, você terá uma gesticulação harmoniosa e um posicionamento elegante na frente do público.
Para completar a eficiência da expressão corporal e do jogo fisionômico, ainda é necessário levar em conta a comunicação visual. Quando você estiver falando, procure olhar para todos os lados da platéia. Não gire apenas os olhos, mas também a cabeça e os troncos. Assim, você saberá melhor como o ouvinte está reagindo diante da sua apresentação e, principalmente, fará com que a pessoa se sinta prestigiada e muito mais presente. Essa movimentação de cabeça e troncos também ajudará para que você quebre a rigidez da postura e adquira um maior naturalidade.



Credibilidade na comunicação



O grande objetivo da comunicação é a conquista da credibilidade. Se as pessoas acreditarem no que você diz, se confiarem nas suas palavras, sua missão estará cumprida. Alguns pontos são determinantes para conquistar essa credibilidade: naturalidade, emoção, conhecimento e conduta pessoal. Vejamos cada um deles. Não existe técnica em comunicação que possa ser considerada mais importante do que a naturalidade e a espontaneidade. A cada aluno que vem fazer meu curso, o primeiro alerta que faço é esse: se, para adquirir a técnica da comunicação você tiver de perder a sua naturalidade, é preferível continuar com seus erros e desacertos.
Qualquer tipo de artificialismo na comunicação faz as pessoas duvidarem de todas as suas palavras. Portanto, seja sempre natural e espontâneo.



Outro ponto crucial para a conquista da credibilidade é a emoção. Se você falar apenas com naturalidade, vai somente transmitir a mensagem. Para envolver o público, fazer com que as pessoas participem das nossas idéias, é preciso, além da espontaneidade, falar com emoção. É preciso demonstrar que aquele assunto é importante para você. Que você está envolvido com o tema. Se não demonstrar seu envolvimento e interesse pelo assunto, não conseguirá o envolvimento e o interesse do público. Fale, portanto, com energia, com entusiasmo.
Um dos maiores exemplos de emoção que podemos utilizar foi dado pelo abolicionista José do Patrocínio. Certa vez, num teatro lotado, ele teve de fazer um discurso depois de Silva Jardim, orador famoso que ombreava em eloqüência com José do Patrocínio. Esses dois oradores eram amigos, mas, naquele momento, tinham divergências políticas. Com voz forte, com o olhar penetrante e irônico de sempre, Silva Jardim discursou conquistou a platéia e foi aplaudido de pé. Em seguida, José do Patrocínio subiu ao palco e, talvez para não se indispor mais com Silva Jardim, falou de forma tímida e hesitante. Não demorou e surgiram as primeiras vaias na platéia - e, quanto mais as vaias aumentavam, mais José do Patrocínio ia se perdendo e sumindo. Depois de algum tempo, o teatro ficou em silêncio, possivelmente com pena do orador, que parecia destruído e derrotado. Nesse momento, de repente, uma voz gritou do fundo uma frase que atravessou todo o recinto e bateu como uma chicotada no rosto de Patrocínio: "cala a boca, negro". Por alguns instantes, ele ficou paralisado, os olhos esbugalhados. Mas, a seguir, indignado, suas palavras começaram a sair como de dentro de um vulcão estonteante. Fortalecido, defendeu-se do insulto e ainda atacou Silva Jardim. Falou com tanto entusiasmo, energia e emoção que as mesmas pessoas que o vaiaram passaram a aplaudi-lo.



A história não acaba aqui. Depois do discurso, ele quis saber quem tinha sido o covarde que o mandara calar a boca. Ao seu lado, o jornalista Paula Ney, um dos melhores amigos de Patrocínio, fez a confissão: "fui eu". Mas por quê?, quis saber. "Ora, você estava totalmente arrasado. E somente uma provocação que pudesse cutucar o seu coração, movimentar o seu espírito, balançar a sua alma poderia trazer para fora novamente esse orador extraordinário que você é". Veja neste exemplo magnífico, relatado pelo escritor Coelho Neto, como a emoção é fundamental, a ponto de transformar uma derrota numa vitória estupenda.
Além da naturalidade e da emoção, a conquista da credibilidade também passa pelo conhecimento do assunto que estamos tratando. Ou melhor: mais do que ter conhecimento, é preciso demonstrar que se tem esse conhecimento. Quando as pessoas percebem que você estudou, pesquisou, aprofundou-se num tema, elas começam a acreditar também nas suas palavras. Se você tem de fazer uma apresentação de 30 minutos, não adianta conhecer apenas 30 minutos daquela matéria. Você precisa ter pelo menos uma hora de conhecimentos. Precisa sobrar informação. Se vai falar sobre plantação de café, por exemplo, não adianta só ler livros sobre isso. Precisa visitar uma, conversar com os lavradores, ver como plantam e colhem, falar com o dono da fazenda, discutir sobre o transporte e a comercialização do produto. Só com isso será possível transmitir conhecimento e segurança no momento da apresentação.



Por fim, resta o último elemento da credibilidade, aquele que sustenta e dá valor aos outros três: a conduta pessoal exemplar. Ou seja, tudo aquilo que nós pregamos na nossa mensagem, precisa encontrar respaldo e apoio nas nossas atitudes. Se falamos uma coisa e fazemos outra, é evidente que haverá um divórcio, uma incoerência mortal para o discurso. Prestando atenção a isso, você pode vencer o medo de falar em público e conquistar qualquer platéia.

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