domingo, 11 de março de 2012

As reformas ortográficas




Nesse ano, cursinhos preparatórios, colégios, professores e alunos passaram a reorientar os padrões da escrita com o estabelecimento da reforma ortográfica. Para muitos, essa mudança é maléfica e não oferece vantagens compatíveis a todo o esforço que se tem para abandonar as antigas formas agora consideradas errôneas. Outros apontam que esse tipo de mudança na língua se faz importante na elaboração de uma mesma grafia para todos os países que adotam o português como língua pátria.

Ao contrário do que se imagina, todas essas mudanças não são mero fruto da modernidade e de todos os interesses diplomáticos, políticos e econômicos que cercam a questão. Desde sempre, o português, assim como outras diversas línguas espalhadas pelo mundo, sofre modificações. Com isso, podemos salientar uma historicidade em nossas reformas ortográficas que, na verdade, começaram a existir desde o século dezesseis.

Na época dos anos de 1500, a língua portuguesa era bastante carente de qualquer tipo de padronização em sua escrita. Cada pessoa que escrevia elaborava um sistema de regras próprio que, na grande maioria dos casos, seguia o som estabelecido pela própria palavra. Em muitas situações, um mesmo termo era escrito com ou sem “gu”, “qu” ou “y”. Dessa forma, a leitura de documentos dessa época é extremamente complicada e dificultosa.

Entretanto, no desenrolar da Renascença, os intelectuais lusitanos quiseram rebuscar a escrita da língua com o uso e o abuso de classicismos que infestaram sua escrita com a adoção de grafemas com “y”, “ph”, “th” e “rh”. Para exemplificar esse novo período, podemos dizer que “As medicações oferecidas pelo pharmacia não curam os males que observamos nos dramas do theatro”. Enquanto isso, o português sofria outras intervenções ao se misturar com as línguas indígenas e africanas do Brasil Colonial.

A salada de expressões e grafias sofreu um controle maior no período em que o despotismo ilustrado tomava conta da administração lusitana. Sob a tutela de marquês de Pombal, novas leis determinavam uma padronização do português com a criação das Aulas Régias, que seriam ministradas por professores leigos. Dessa forma, o português falado no Brasil foi tomando linhas mais nítidas e perdeu uma série de seus indigenismos e africanismos.

A primeira reforma que se tem notícia aconteceu em 1911, quando o filólogo Gonçalves Viana defendeu a simplificação da língua e seu distanciamento do latim. Inicialmente, o Brasil adotou a ideia, mas logo retrocedeu na decisão ao recuperar o uso do “ph” e “ch”. No início da década de 1930, um projeto de simplificação foi mais uma vez elaborado, contudo o governo de Getúlio Vargas anulou o padrão. Somente quatro anos mais tarde, por pressão dos professores, algumas novidades foram incorporadas.

Em 1943, uma nova convenção foi organizada, mas só os brasileiros decidiram utilizar as mudanças, como a substituição do “z” pelo “s” na grafia da palavra “casa”. Dois anos mais tarde, foi o Brasil quem não aceitou o uso de algumas consoantes mudas (“afecto” “óptico”) e o abandono completo do trema. Somente vinte e seis anos mais tarde, o Brasil decidiu abolir alguns tremas e acentos diferenciais (“almôço”, sòmente, saüdade).

Até chegarmos ao acordo que reuniu todas as nações lusófonas, aconteceu um encontro anterior em 1986. Nessa penúltima reunião sediada no Rio de Janeiro, foram apontadas várias das mudanças incorporadas ao acordo ortográfico atual. Segundo o mesmo, os portugueses só abrirão mão do uso de certas consoantes mudas no ano de 2017.

Vigente a partir do ano de 2009, o novo acordo ortográfico gera a expectativa em muitos que desconfiam do seu efetivo cumprimento.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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