sábado, 4 de fevereiro de 2012

CONGREGACIONALISMO


 

HISTÓRIA DO CONGREGACIONALISMO

Aventuramo-nos a afirmar que o Congregacionalismo remonta aos dias em que o próprio Senhor Jesus falou aos seus discípulos que, onde quer que estivessem dois ou três reunidos em Seu nome, Ele estaria no meio deles.
Na Idade Média, época da decadência espiritual da Igreja , uma grande fome e necessidade espiritual se fizeram sentir entre pessoas sinceras que buscavam um relacionamento real com o seu Criador. Elas sentiam que a vida cristã deveria ser mais do que ritualismo vazio e exploração financeira dos seus seguidores para fins escusos. Eram homens e mulheres que - apesar de muitos perigos e perseguições – foram andando sempre em busca da liberdade religiosa que ansiavam para expressar sua fé sem repressão.
Não podemos fazer aqui um relato extenso da história surpreendente desses bravos homens e mulheres cuja saga foi contada muitas vezes e registrada em muitos livros. Esboçamos apenas as origens da “Igreja Congregacional” para melhor compreender a herança deixada pelos Pais Peregrinos para a nossa igreja e cultura.

A história do Congregacionalismo viu sua primeira expressão nos Lolardos. Estes eram seguidores de John Wyclif, (1330 – 1384) um tradutor pioneiro das Escrituras para o inglês. Wyclif nasceu 153 anos antes de Lutero e 187 anos antes da divulgação das suas 95 teses. Protestou contra os abusos da igreja papal do seu tempo. Seus adeptos foram chamados de Puritanos porque primavam por uma igreja purificada interiormente e que fosse baseada somente na Bíblia. Alguns chegaram à conclusão de que a Igreja da Inglaterra jamais seria purificada; separaram-se então da Igreja, sendo, por isso, chamados de Separatistas. Formaram congregações independentes e, freqüentemente, eram forçados a reunir-se em secreto por causa da grande perseguição que lhes sobreveio. Muitos foram aprisionados e alguns até martirizados por causa da sua fé.
John Wyclif publicou uma série de tratados a partir de reflexões sobre a autoridade ou "domínio" divino e sua representação na terra, chegando a conclusões teológicas heterodoxas para a época. Idéias como a primazia da "comunidade invisível" dos eleitos e a dos preceitos da Escritura sobre a igreja institucional foram precursoras do protestantismo. Wyclif defendeu também a devolução dos bens eclesiásticos ao poder temporal encarnado pelo soberano. Não aceitou um homem como cabeça da igreja e sim somente a Cristo, pois o rei Henrique separara a igreja inglesa do papado e de Roma e tornara-se chefe da Igreja.
Suas idéias encontraram continuidade na tradição lolarda britânica e no movimento hussita da Boêmia, que as transmitiram aos teólogos da Reforma. Este movimento foi excluído de entre o clero por um escrito cruel contra a heresia no ano de 1401, mas o movimento leigo persistiu, apesar de tudo, até o tempo da Reforma. “A fim de levar o Evangelho ao povo, Wyclif começou a enviar seus “sacerdotes pobres”. Em pobreza apostólica, sem sapatos, vestindo compridas túnicas, com um bordão nas mãos, iam de dois em dois, como os antigos pregadores valdenses ou franciscanos. Diferiam deles por não fazerem votos permanentes. Enorme foi o seu êxito”. (História da Igreja Cristã – W. Walker – Vl I – Página 376) A ênfase que o congregacionalismo dá, ou deveria dar, aos pregadores leigos e sobre as Escrituras são sinais claros de sua ascendência lolarda.
Foi Robert Browne, um Puritano, que se tornou Separatista, o primeiro a reunir em Norwich (Condado de Norfolk, Inglaterra), em 1580, uma Igreja Congregacional legalmente reconhecida. Foi ele quem elaborou a idéia de Igreja congregada (Gathered church). R. Brown foi sem dúvida o pai intelectual do Congregacionalismo. Foi ele que também reconheceu a necessidade de concílios para relacionar as diferentes congregações locais entre si.
Outro marco importante foi a igreja congregada em Scrooby, um povoado perto do caminho a Londres de onde partiu o grupo que chegou a Leyden e depois para Plymouth. A congregação se reunia na casa de William Brewster. Quando se mudaram para Leyden, eles escolheram John Robinson como seu pastor e a igreja permaneceu ali durante doze anos antes de emigrar para a América do Norte (EUA).
Ninguém contou melhor a história da travessia até a América em um Mayflower abarrotado sob as ordens do capitão Jones, do que o próprio William Bradford, Eram 102 puritanos e com eles a semente do congregacionalismo partindo para a América em 1620 em busca de liberdade de fé. Bradford relata do surgimento da colônia de Plymouth, e de como a gente de Scrooby, depois de pesares, e perigos, impiedades, prisão, aborrecimentos, malícia e abuso por parte dos poderosos resolveu buscar sua liberdade no exílio. O início foi muito difícil e muitos não suportaram o rigoroso inverno. Refere-se também ao pacto de Mayflower, firmado pelos peregrinos em sua chegada na América, como sendo o primeiro instrumento da democracia na América. Descreve também a primeira celebração de “Ação de Graças”. Depois de benéficas chuvas que vieram em resposta a humildes e ferventes súplicas, que resultaram numa colheita farta, e separaram em agradecimento um dia de Ações de Graças. A magnífica herança que nos deixaram os Pais Peregrinos continua influenciando os padrões de expressão religiosa e cultural congregacional de nossos dias. O essencial é que esta herança na área religiosa é o conceito de Igreja Congregacional como Grupo Voluntário de Cristãos, submisso a Deus em autoridade espiritual e eclesiástica.
Logo após a chegada dos peregrinos ao novo mundo, Charles I assumiu o trono e a situação na Inglaterra piorou. A perseguição aos puritanos aumentou e por volta de 1640 aproximadamente 20.000 puritanos haviam partido para a América em busca da liberdade religiosa. Eles eram apaixonados pela palavra de Deus e queriam viver fundamentados na Bíblia em sua fé e prática, convencidos de que o Congregacionalismo é a forma bíblica de governo eclesiástico. Para eles Jesus era o Senhor da igreja global e de cada igreja local. A influência do congregacionalismo na América cresceu influenciando também a educação. A Universidade de Harvard e a de Yale foram estabelecidas para treinar os pastores congregacionais e a Universidade de Darthmauth treinava os missionários congregacionais para evangelizar os índios. Mais de 50 faculdades e universidades foram fundadas pelos congregacionais. Também estavam na dianteira da implantação de igrejas, pois lhes era inconcebível ter um povoado sem uma única igreja.
Em 1798 foi organizada a primeira Sociedade Missionária Nacional na América para cristianizar os indígenas e manter e promover o conhecimento cristão nos novos povoados dentro dos Estados Unidos. Em 1826 esta se tornou Sociedade Missionária Nacional Congregacional. Assim os Congregacionais também estavam na dianteira da atividade missionária.
Já em 1640 havia missionários aos índios, sendo David Brainerd um dos primeiros. A primeira Bíblia publicada no novo mundo foi uma tradução indígena. O começo do movimento missionário moderno também está ligado aos congregacionais e ao histórico encontro de oração de Haystack, quando uma noite um grupo de estudantes avistou um abrigo debaixo de um monte de feno durante uma tempestade. Naquele lugar estranho eles oravam e o Senhor avivou o zelo missionário em seus corações e surgiu a Junta Americana de Missionários para Missões Estrangeiras, a qual em apenas alguns anos havia enviado missionários à todas as partes do mundo. Em 1734 houve o primeiro grande avivamento no congregacionalismo americano através de Johnatan Edwards (1703-1758). Cem anos depois ocorreu o segundo grande avivamento com Thimoty Dwight, neto de Johnatan Edwards.
Na Alemanha, entre os teólogos após Lutero, surgiram homens piedosos como Philip Spenner (1635-1705) e August Hermann Francke (1663-1727) que enfatizavam a doutrina pura e uma vida piedosa, motivo pelo qual seus seguidores e adeptos eram chamados de Pietistas. Cansados de serem perseguidos alguns deles emigraram para os Estados Unidos onde encontraram um lar espiritual no meio congregacionalista. Alguns dos pietistas alemães emigraram à Rússia na região do rio Wolga onde vivenciaram um grande reavivamento. Quando o comunismo assumiu o comando naquele país muitos destes pietistas emigraram também para os Estados Unidos (em torno de 300.000), para o Canadá, e outros para o Chile, Paraguai, Argentina e Brasil. Os imigrantes pietistas que foram aos Estados Unidos também encontraram na Igreja Congregacional o seu lar espiritual. Aqui começa a real história da Igreja Evangélica Congregacional do Brasil (IECB). Os pietistas que emigraram para a Argentina conheceram o congregacionalismo através das informações recebidas por correspondência dos seus parentes dos EUA. Solicitaram à Igreja Congregacional americana que lhes enviasse um missionário, o que ocorreu efetivamente em 1924 na pessoa do Reverendo John Hölzer. Este fundou comunidades, ordenou professores como pastores e fundou em Concórdia – Argentina o Instituto de Teologia para formação de pastores. Esta Faculdade de Teologia foi transferida e atualmente funciona em Urdinarain – Entre Rios.
O Dr. Robert Kalley, escocês veio para o Brasil como missionário, criando no dia 10 de maio de 1855 a primeira Igreja Evangélica de estilo congregacionalista e de fala portuguesa no Brasil: A Igreja Fluminense. Em 1916, com a união de diferentes denominações evangélicas, foi registrada a Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais. Mais tarde surgiram diferentes linhas de Igrejas Congregacionais as quais se desenvolveram histórica – e doutrinariamente de forma independente.
No sul do Brasil estavam radicados muitos alemães evangélicos em congregações independentes que se reuniam livremente. Parte destas congregações era de linha pietista e outra parte era formada por comunidades tradicionais e sem muita espiritualidade. A maioria dissidente da Igreja Luterana, e que mantiveram suas culturas e tradições.
Em 1938 o Pastor Karl Spittler conheceu a Igreja Evangélica Congregacional da Argentina e uniu-se a ela com a comunidade de Linha Morengaba, Neu Wittemberg, hoje Panambi – RS.
No dia 11 de Janeiro de 1942, em Linha Morengaba, juntamente com outras seis igreja independentes, que são: Linha 27 – Ajuricaba; Feijão Miúdo Padre Gonzáles – Três Passos; Guarani – Cerro Largo; Ati-Açú – Sarandi; Marupiara – Vila Paraíso e Nova Boemia – Cachoeira do Sul, fundou-se a Igreja Evangélica Congregacional do Brasil. O registro como pessoa jurídica, seus estatutos e regimento interno bem como as leis e regras que regem a IECB constam nos autos e atas da IECB.
Os pastores pioneiros eram professores leigos ordenados pastores, entre os quais lembramos: Karl Spittler, Otto Geier, Wilhelm Strauss, Heinrich Hirzel, Friedrich Stahlschuss, Albino Wagner, Osvaldo Hentges, Erwin Reich, Gottfried Rode, Manfred Krumbholz, Bernard Kremer...
Em Janeiro de 1948 o Instituto de Teologia da Argentina enviou os primeiros pastores congregacionais formados, a fim de darem continuidade ao trabalho dos pioneiros no Brasil. Os pastores Jan Serfas e Gustavo Altmann iniciaram suas atividades, o primeiro em Feijão Miúdo – Três Passos e o segundo em Linha XV de Novembro – Santa Rosa. Lembramos ambos em saudosa memória, pois se encontram com o Senhor na Glória, após servirem-No com muita fidelidade.
Com a rápida expansão da Igreja foi solicitado à Igreja nos Estados Unidos o envio de um superintendente. Assim, em 1949 o Pastor Richard Knerr veio dos EUA para supervisionar o trabalho da IECB, cargo no qual permaneceu até 1958, residindo na cidade de Ijuí – RS. Em 1959 o mesmo foi substituído pelo Pastor Valérius Schulz. Em 1961 foi fundado e construído no Brasil o Instituto Bíblico Evangélico Congregacional na Linha 4 Leste, Ijuí – RS, para preparar os candidatos do Brasil ao ministério pastoral, os quais concluíam seus estudos teológicos no Instituto de Teologia da Argentina. Em 1970 os pastores brasileiros assumiram a direção da IECB, sendo o seu primeiro presidente o já falecido Pastor Erich Witzke. Seguiram-se na presidência os pastores: Hartmut Hachtmann, Alfredo Achterberg, Ivo Lídio Köhn e Dorival Seidel.
Em 1970 também foi inserido o Curso Teológico no Instituto Bíblico, que passou a ser Seminário, com a faculdade de formar pastores. Esta entidade jurídica passou a chamar-se de: Instituto Bíblico e Seminário Evangélico Congregacional, sigla IBISEC. Em 1973 formaram-se os primeiros pastores no Seminário brasileiro: Lauro Schumann, Ivo Lídio Köhn, Zeno Wehrmann e Edelberto Racho. A Igreja expandiu-se do RS para SC, PR, MS, MT e ao país vizinho = o Paraguai. No Paraguai ela é regida por estatutos próprios, e no ano 2000 já contava com 19 comunidade, 4 casas pastorais, 14 templos construídos e 4 em construção, 384 famílias inscritas, num total de 1338 pessoas, atendida pelos pastores formados no IBISEC da IECB.
Segundo informações do “Kirchenbote Kalender”, em 1949 havia na Igreja Congregacional do Brasil: 7 paróquias, 7 pastores, 38 comunidades, 1788 famílias e um total de 8882 pessoas. Em 1959 eram 15 paróquias, 15 pastores, 107 comunidades, 3616 famílias, num total de 18004 pessoas, 50 Escolas Dominicais, 27 corais, 2 ligas juvenis, 6 grupos de OASC na Ordem Auxiliadora, 71 templos e 13 casas pastorais. Cinqüenta anos após o início as estatísticas de 2000 apontavam 38 paróquias ou campos missionários, 221 comunidades, 117 pontos de pregação, 37 casas pastorais, 182 templos concluídos e 25 em construção, 8186 famílias inscritas, num total de 28001 pessoas. Deste número 885 estavam na doutrina, 159 na Juventude Mirim, 1093 jovens nas ligas juvenis, 1848 senhoras na OASC, 935 cantores nos corais e 31 programas radiofônicos. Hoje temos 42 paróquias organizadas e mais de 60 pastores, incluindo os já jubilados.
A origem da IECB, portanto, fala da vida espiritual piedosa, casta, independente e prática. Nela devemos perseverar sobre ela devemos construir, mantendo identidade própria, sem se deixar influenciar por modernismos, tendências, usos e costumes ou tradições humanas. Tendo a palavra de Deus como autoridade máxima devemos continuar embasados na âncora da fé, edificados sobre a pedra angular que é Jesus Cristo, o Senhor ressurreto e eterno. No decorrer dos anos a IECB demonstrou perseverança e fidelidade. Precisamos mantê-la até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

FONTE


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